Os produtores de café e conservacionistas trabalham juntos para proteger o abastecimento de água do Cerrado
por MARSEA NELSON, GERENTE SÊNIOR DE COMUNICAÇÃO DO CEPF
O Cerrado Mineiro no sudeste do Brasil é conhecido por seu café de alta qualidade, mas, sem ações de conservação, pode não ficar assim. Os 4.500 produtores de café da região – que se estendem por 235.000 hectares – dependem da irrigação para manter suas colheitas. Infelizmente, secas severas, causadas pelas mudanças climáticas, afetam o abastecimento da água da qual eles dependem.
Somente em 2020, cerca de US$ 30 milhões foram perdidos em receitas após a colheita do café ter sido reduzida em 40%. Para enfrentar esta crise, cafeicultores, torrefadoras internacionais, organizações sem fins lucrativos e pesquisadores se reuniram para criar o Consórcio Cerrado das Águas. O grupo se formou em 2015 com a ajuda financeira de alguns grandes nomes: Lavazza, Expocaccer e Nespresso. Outros atores importantes logo se juntaram: Nescafé, Cooxupé, VolCafé e COFCO, entre eles.
O Fundo de Parceria Para Ecossistemas Críticos ajudou com uma doação de US$ 400.000 – a maior de todos os tempos para um projeto no Hotspot de Biodiversidade do Cerrado – concedida à organização local Fundação de Desenvolvimento do Cerrado Mineiro (FUNDACCER), criada pela Federação dos Cafeicultores.
Atualmente, o Consórcio está executando um programa piloto na bacia do Córrego Feio para auxiliar os agricultores na implementação de métodos de agricultura sustentável – inserindo a vegetação nativa em meio às plantas de café e utilizando fertilizante orgânico, por exemplo.
Isto é acompanhado por um plano de propriedade personalizado que detalha como implementar as melhores práticas de gerenciamento para uma agricultura “inteligente em termos climáticos” para cada propriedade.
Os benefícios do melhor uso da água vão além da simples produção de café. As cidades próximas também dependem do abastecimento de água do Cerrado Mineiro. Patrocínio, lar de 90.000 habitantes, esteve sob uma emergência hídrica sete vezes nos últimos 10 anos. “Se cada agricultor fizer sua parte na proteção da água em sua propriedade, ele também protegerá o abastecimento da cidade”, disse Michael Becker, que lidera a equipe de implementação regional do CEPF para o Hotspot do Cerrado. Há, é claro, alguns agricultores que não estão atualmente interessados em se envolver com a iniciativa, mas Becker está otimista de que mais se juntarão a ela. “A sustentabilidade melhora o sucesso de uma propriedade rural porque fornece uma estrutura para a melhor maneira de administrar a terra”, disse ele. “Os agricultores verão os sucessos de seus vizinhos que estão utilizando estas melhores práticas”.
Além de trabalhar com agricultores individualmente, o Consórcio analisa o quadro geral, medindo o volume e a qualidade da água em pontos estratégicos ao longo da bacia hidrográfica para determinar a eficácia dos esforços do consórcio. Os governos locais estão percebendo os benefícios de tal trabalho. “Recentemente, dois municípios adotaram avidamente o programa para proteger suas fontes de água”, disse Becker. As cidades se beneficiarão da experiência do consórcio, e o consórcio, por sua vez, receberá apoio não monetário, como o uso de equipamentos agrícolas. “Queremos continuar expandindo estas técnicas em um território ainda maior”, acrescentou Becker.
Para expandir além do programa piloto, será necessário mais financiamento. Para isso, o consórcio recebeu recentemente um grande impulso quando um dos maiores comerciantes de commodities da China, Coffee Corp, aderiu ao Consórcio. E, no mês passado, a empresa alemã NKG Stockler assinou o contrato.
“Eu gostaria de ver os participantes do mercado internacional realmente sustentarem [o consórcio] e vê-lo como uma oportunidade de manter seus mercados”, disse ele. “Quando falo com colegas de outros países sobre esta questão, pergunto-lhes: ‘O que aconteceria se não houvesse mais café?”.
Com a ajuda do Consórcio Cerrado das Águas, esperamos nunca mais ter que descobrir.
Veja a matéria também no site do CEPF.
O Fundo de Parceria para Ecossistem.as Críticos é uma iniciativa conjunta da Agência Francesa de Desenvolvimento, da Conservação Internacional, União Europeia, da Gestão Ambiental Global, do Governo do Japão e do Banco Mundial. Uma meta fundamental é garantir que a sociedade civil esteja envolvida com a conservação da biodiversidade.