Depois de cinco anos de frutíferas atividades e ações, o Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF) se despede do Cerrado e do IEB, mas deixa o seu legado na proteção do bioma.
por Luana Luizy, assessora de comunicação, IEB e Aryanne Amaral, analista socioambiental, IEB
Foram mais de 60 projetos apoiados e uma rede formada por 560 organizações, com iniciativas que se estenderam desde o estado do Piauí até o Mato Grosso do Sul, com atuação em diferentes eixos estratégicos: extrativismo, conservação de espécies ameaçadas, áreas protegidas, monitoramento ambiental, restauração, fortalecimento e capacitação para povos indígenas, populações tradicionais e organizações da sociedade civil, etc.
Michael Becker, coordenador da estratégia de implementação do CEPF Cerrado, conta que um dos principais objetivos do programa, foi o de incorporar toda essa diversidade, com o objetivo de proteger os recursos naturais do Cerrado. “A questão mais forte é o nosso trabalho com as pessoas, sejam elas populações tradicionais ou produtores de café. Além de apoiar projetos socioambientais, o CEPF e o IEB estão preocupados em fortalecer a sociedade civil no Cerrado. Realizamos um grande esforço para construir pontes e avaliamos que o resultado foi positivo, pois esta diversidade de parceria nos trouxe o desafio de promover as interações entre os beneficiários e as comunidades do hotspot para construir sinergias capazes de potencializar os resultados”, declara Becker.
A grandeza do Fundo não para por aí. Entre os anos de 2016-2021, os parceiros do CEPF contribuíram com o fortalecimento da proteção e do manejo de aproximadamente 1.9 milhões de hectares em áreas protegidas no Cerrado. Além disso, o projeto Reservas Privadas no Cerrado fomentou a criação de 13 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), e possivelmente, alcançará pelo menos 50 novas reservas privadas estabelecidas.
“O CEPF deixa um legado de inovação e semeaduras de novas ideias e soluções para a manutenção do Cerrado em pé e dos meios de vida de seus povos e comunidades. Para o IEB, é uma honra e uma alegria imensas poder contribuir com esses plantios, e cremos que todo o Cerrado brasileiro também já colhe os frutos desse esforço coletivo na busca da sustentabilidade”, aponta Andréia Bavaresco, coordenadora executiva do IEB.
Outros projetos atuaram na proteção de seis espécies globalmente ameaçadas: as aves rolinha do planalto, pato-mergulhão e bicudo; a perereca-macaco; o cacto coroa-de-ita e a árvore faveiro-de-wilson. O Instituto Claravis e o Centro de Sobrevivência de Espécies Brasil aplicaram ferramentas estratégicas para conservação de espécies, como as avaliações de risco de extinção (lista vermelha), os Planos de Ação Nacionais e o protocolo Estado Verde da da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
No que tange ao monitoramento ambiental, o CEPF fomentou iniciativas que empregam o uso da tecnologia, como o geoprocessamento, sensoriamento remoto e aplicativos, para defender os povos do Cerrado e os seus recursos naturais. Uma dessas iniciativas é do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA-UFRJ), projeto que desenvolveu o sistema ALARMES de alertas de queimadas.
O projeto “Tecnologias interativas aplicadas à restauração ambiental” desenvolveu a ferramenta Radis Cerrado, que contribui para a construção de uma gestão ambiental transparente e participativa. O aplicativo foi desenvolvido pelo Centro de Gestão e Inovação da Agricultura Familiar da Universidade de Brasília (Cegafi/UnB), com apoio da SEMA DF, Brasília Ambiental, Embrapa e Rede Bartô. Os agricultores de pequeno, médio e grande porte terão no Radis uma possibilidade a mais para monitorar os esforços de restauração. A ferramenta vai ajudar na implementação do Novo Código Florestal.
Deve-se destacar também a criação de uma plataforma inédita – Plataforma de Conhecimento do Cerrado – que reúne dados sobre o bioma, uma ferramenta virtual e colaborativa, que permite identificar a situação do solo, bem como os conflitos territoriais por água em terras indígenas, unidades de conservação, propriedades rurais e territórios quilombolas. Essa plataforma foi produzida pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG), com o apoio do IEB e CEPF.
No que concerne à sociedade civil, o Fundo colaborou para a capacitação de 40 organizações no programa de capacitação “Acelera Cerrado”, promoveu espaços de debate sobre os desafios de proteção e fortaleceu a organização política de mulheres cerratenses, a partir do diálogo e da mobilização.
Agricultores familiares e populações tradicionais, como quilombolas, geraizeiros, quebradeiras de coco-babaçu, povos indígenas e outros grupos estiveram juntos com o CEPF e IEB. Entre esses grupos, destaca-se a Associação Quilombo Kalunga (AQK), do território quilombola Kalunga, localizado na região da Chapada dos Veadeiros no estado de Goiás. Por meio da parceria, a associação conquistou o reconhecimento desse território como TICCA – Territórios e Áreas Conservados por Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais e Locais.
“A questão do reconhecimento como TICCA foi um dos maiores impactos que tivemos com o projeto. Pensando TICCA como uma rede internacional, e, agora, a gente fazendo parte dessa rede. Falar dos resultados com a parceria com o IEB e o CEPF é fácil. Primeiro, a visibilidade que conseguimos mundialmente, o empoderamento enquanto povo e associação. Hoje, a AQK é referência para outros povos. Atingimos um outro nível de conhecimento para dentro do território. Trabalhamos questão de gênero e turismo, muitos cursos de condutores de visitantes, de onde tiramos sustento, formações de apicultura. O pessoal já está vendendo mel”, comenta Damião Moreira dos Santos, membro da AQK sobre os benefícios dessa parceria.
Futuro dentro do IEB
A atuação do IEB no Cerrado segue firme, agora com foco em frentes como as cadeias de valor e restauração ecológica.
“Estamos no processo de encerramento do Fundo e vamos nos organizar para captar projetos com algumas instituições da rede de parceiros que o IEB construiu no bioma, através da implementação do CEPF Cerrado. Um dos projetos já está em andamento com o Instituto Educacional Tiradentes , na região do Lago de Serra da Mesa em Niquelândia, Goiás. Também vamos nos reconfigurar para atuar em campo, o IEB agora na ponta com esses parceiros, priorizando o que a instituição já executa, com as cadeias de valor, capacitações e fortalecimento institucional. Estamos no momento de desenvolvimento da identidade do programa Cerrado dentro da instituição”, aponta Aryanne Amaral, analista socioambiental do Programa Cerrado.
Continue ligado nos canais de comunicação do IEB para acompanhar as novidades que vão surgir do programa Cerrado!
O Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos é uma iniciativa conjunta da Agência Francesa de Desenvolvimento, da Conservação Internacional, União Europeia, da Gestão Ambiental Global, do Governo do Japão e do Banco Mundial. Uma meta fundamental é garantir que a sociedade civil esteja envolvida com a conservação da biodiversidade.