*O Ecoturismo de Base Comunitária é uma ação que contribui para a elevação da renda familiar e a conservação dos recursos naturais
Pode ser mais uma fonte de renda familiar, conservar os recursos naturais e, ainda, encantar as pessoas sobre os cuidados com a terra e com a natureza são os objetivos de um projeto que o Instituto Mamede e o WWF-Brasil desenvolvem hoje junto ao Assentamento Canaã, em Rochedo que fica a 80 km distante da capital sul-mato-grossense. Os assentados estão aprendendo que a vida simples e o cuidado com a natureza geram interesse de turistas que buscam por experiências e vivências no meio rural. No assentamento há vários atrativos tanto naturais como culturais, com a possibilidade de o turista visitar os roçados; acompanhar a produção de pecuária de leite; visitar o Morro de Santo Antônio – onde fiéis fazem peregrinações e devoções; várias nascentes hídricas; ambientes naturais com vegetação do Cerrado, matas de galeria e florestas estacionais, além de vida selvagem abundante. Também são oferecidas comidas típicas, produtos da horta e da agricultura familiar, além de pães, leite e queijo.
Para que tudo isso funcione, no entanto, é preciso que a comunidade esteja bem preparada e organizada, por isso a importância dos cursos de formação e engajamento dos moradores.
E é este tipo de iniciativa – organizar a comunidade para oferecer serviços de ecoturismo comunitário – que o Instituto Mamede está fazendo em parceria com o WWF-Brasil, por meio do projeto “Municípios Sustentáveis protegendo o berço das águas do Cerrado e as cabeceiras do Pantanal” apoiado pelo Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF, Critical Ecosystem Partnership Fund) e Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB).
Don Eaton do WWF-Brasil explicou que “o projeto, Municípios Sustentáveis, busca promover alternativas econômicas que são ambientalmente sustentáveis para as comunidades rurais, contribuindo para a geração de renda, o fortalecimento da economia local e a manutenção dos serviços ambientais essenciais para áreas de produção, comunidades rurais e biodiversidade regional. ”
Trabalho contínuo
O trabalho com Ecoturismo de Base Comunitária no Assentamento Canaã que contou com a participação de 23 membros de comunidade vem sendo construído através de um processo de diálogo desde o ano de 2017 e que culminou no primeiro módulo de formação em julho deste ano, tendo como base a experiência na Comunidade Quilombola Furnas da Boa Sorte, localizada no município de Corguinho (130 km de Campo Grande), Mato Grosso do Sul. Lá, a formação vem sendo desenvolvida desde 2015 e, neste ano, o segundo módulo aconteceu em fevereiro com a participação de 43 pessoas.
Simone Mamede e Maristela Benites do Instituto Mamede, contam com a parceria de várias instituições como a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), o Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da UNIDERP e Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul – FUNDTUR-MS. Assim, a experiência e as responsabilidades são compartilhadas, a fim de inspirar e assegurar a construção de territórios mais sustentáveis que percebam no turismo de base local uma alternativa para melhor uso da terra e conservação da biodiversidade. Além de fomentar à pesquisa e extensão neste tema e o investimento em formação e estruturação do turismo no estado, afirmaram.
Para a realização das formações tem sido utilizadas metodologias participativa como “open space”, mapa falado, diagnóstico participativo, aula expositiva e práticas de campo. Os cursos são divididos em três módulos: I) Planejamento e Sustentabilidade; II) Educação Ambiental e Formatação de Roteiros e; III) Empreendedorismo e Marketing.
Segundo Simone Mamede, do Instituto Mamede, “a atividade tem sido conduzida com muito cuidado e dedicação. Todos monitores passaram por capacitações e a aplicação dos módulos vem sendo avaliada e monitorada. O diálogo, a percepção e o acompanhamento tanto dos integrantes da comunidade como de outros atores são ações frequentes e enriquecedoras, que têm somado muito no processo de formação. Protagonismo, empoderamento, pertencimento, participação e identidade social são os temas estruturantes e que fundamentam as ações e cada módulo de formação”.
Como resultado a Comunidade Quilombola Furnas da Boa Sorte já recebeu alguns grupos de turistas e percebeu a importância de ampliar o leque de atividades com o potencial turístico. Nesse sentido, as mulheres, que representaram mais de 50% das pessoas que participaram da última capacitação, tem se mobilizado para criar uma organização não governamental que represente o núcleo de mulheres da comunidade.
Para este segundo semestre estão previstas as instalações de placas de interpretação e sinalização do Ecoturismo de Base Comunitária e para 2019 estão programadas também novas oficinas sobre temas específicos.
“O Ecoturismo de Base Comunitária tem se revelado não só uma alternativa de renda para essas comunidades, mas uma forma de transformação das pessoas e de reconhecimento da beleza e simplicidade do cotidiano. Um aprendizado sobre a cultura da paz, do viver e conviver, uma construção contínua e coletiva para a sustentabilidade”, concluiu Mamede.
*Texto fornecido pelo WWF-Brasil e Instituto Mamede
O Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos é uma iniciativa conjunta da Agência Francesa de Desenvolvimento, da Conservação Internacional, União Europeia, da Gestão Ambiental Global, do Governo do Japão, da Fundação MacArthur e do Banco Mundial. Uma meta fundamental é garantir que a sociedade civil esteja envolvida com a conservação da biodiversidade.