Monitorar um território de aproximadamente 230 mil hectares, habitado por cerca de 1.500 famílias, distribuídas em mais de 20 comunidades. Esse é o desafio enfrentado atualmente por quilombolas que vivem no Sítio Histórico do Patrimônio Cultural Kalunga. Algumas das maiores preocupações dos Kalunga são a caça e a pesca ilegal, o uso indevido da água, e o uso e ocupação desordenada do solo em seu território.
Para ajudar a discutir sobre o tema, o CEPF Cerrado promoveu, no último dia 13 de julho de 2017, um encontro para tratar sobre monitoramento comunitário e a coleta de dados ambientais. Para isso, foi convidado o engenheiro agrônomo e pesquisador colaborador em Manejo e monitoramento comunitário do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília, Antônio Oviedo que apresentou duas ferramentas de coleta de dados ambientais muito utilizadas por comunidades no monitoramento de seus territórios.
O evento ocorreu na sede do Instituto Internacional de Educação em Brasília e contou com a participação de membros da equipe do IEB além de algumas lideranças quilombolas de comunidades do Sítio Histórico Kalunga. O objetivo foi iniciar uma conversa sobre o monitoramento comunitário e sua importância para gestão participativa dos territórios. Apesar de existirem ferramentas de monitoramento de uso livre, o encontro teve foco na análise das ferramentas Open Data Kit (ODK) e Cybertracker de coleta participativa de dados ambientais que estão sendo utilizadas para a conservação ambiental em várias partes do mundo.
O grupo conheceu alguns casos nos quais a gestão participativa de territórios já se beneficia de registros capturados pelas próprias comunidades. Os exemplos analisados foram o monitoramento das populações de gorilas por comunidades tribais no Congo; o rastreamento de animais para a caça na África por meio de aplicativos; o monitoramento da floresta utilizando apps em Norte Rupununi, Guiana; o monitoramento da pesca do pirarucu na Terra Indígena Kaxinawá e o monitoramento de ameaças ambientais à Resex Chico Mendes, ambas no Acre; e o monitoramento aquático realizado pelo ICMBio em unidades de conservação na Amazônia.
As lideranças quilombolas presentes no encontro demonstraram interesse nas ferramentas apresentadas e compartilharam o desejo de submeterem, para o próximo edital do CEPF, um projeto de monitoramento participativo voltado à gestão territorial do Sítio Histórico do Patrimônio Cultural Kalunga.
Referências:
Ingold, T. (2013). Making: Anthropology, Archaeology, Art and Architecture. Routledge, London.
Ingold, T. (2000). The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill. London: Routledge.
Liebenberg, L. (1990). The art of tracking: the origin of science. David Philip Publishers.
Oviedo & Bursztyn (2017). Community-based monitoring of small-scale fisheries with digital devices in Brazilian Amazon.
Antônio Oviedo (2017). Monitoramento Comunitário (apresentação ppt).
Este monitoramento é importante e necessário.