A agricultura familiar como protagonista da conservação
por Luana Luizy, Assessoria de Comunicação, Instituto Internacional de Educação do Brasil
O Sertão Veredas, no norte de Minas, não é apenas o cenário dos escritos de Guimarães Rosa – autor mineiro que soube como ninguém descrever o regionalismo local –, também é o lugar onde o extrativismo é o protagonista na geração de renda, na conservação do Cerrado e no manejo sustentável.
A Cooperativa de Agricultura Familiar Sustentável com Base na Economia Solidária (COPABASE) conta com 140 cooperados e dá exemplo de boas práticas para manter o Cerrado em pé. Com sede no município de Arinos (MG), a cooperativa atua também em Bonfinópolis de Minas, Buritis, Formoso, Pintópolis, Riachinho, Urucuia e Uruana de Minas.
Com foco no cultivo, produção e comercialização de polpas de frutas do Cerrado – como acerola, manga, goiaba, tamarindo, mangaba, cagaita, araticum, coquinho azedo e umbu – , a COPABASE abastece escolas da região, enquanto dá emprego a produtores locais.
“A gente luta pra manter a conservação, mas também gerar renda para as famílias rurais, que vivem da produção de suas pequenas propriedades”, orgulha-se Dionete Barboza, dirigente da COPABASE.
A diversificação das cadeias produtivas – colhidas em períodos distintos – garante renda durante todo o ano. Os produtos comercializados variam desde a mandioca até a farinha, o açúcar mascavo, o baru, o mel, e, mais recentemente, o algodão orgânico.
A cadeia do baru
Apesar de o carro-chefe da cooperativa ser a produção da polpa de frutas do Cerrado, a “galinha dos ovos de ouro” é a castanha do baru, amêndoa comum nas regiões de Goiás, do norte de Minas Gerais, Mato Grosso e Maranhão.
O alimento tem produção específica em determinada época do ano -antes do período das chuvas -, e traz consigo os princípios da sustentabilidade, já que é coletado manualmente, de forma extrativista, artesanal. “O baru tem um diferencial, pois está dentro de uma fortaleza (a casca); e extrair a amêndoa tem um custo financeiro maior para a gente, mas nos traz uma margem maior de atuação”, explica Dionete.
Pandemia
Cerca de 80% da renda da COPABASE era proveniente da comercialização da polpa de frutos do Cerrado para as escolas locais; porém, a suspensão das aulas devido à covid-19, gerou impacto na renda dos pequenos produtores.
Sem apoio governamental, a associação precisou se reinventar. “Foi bem difícil, pois tínhamos bastante estoque de alimentos. No entanto, conseguimos captar recursos para distribuição de cestas básicas com produtos da agricultura familiar. Assim, conseguimos colocar boa parte do nosso estoque no mercado. A pandemia nos despertou esse olhar de pensar no próximo, mas também de cobrir o buraco financeiro”, conta Dionete.
Parceria com o CEPF e IEB
O fomento do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF, na sigla em inglês) e apoio do Intituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), através do projeto “Práticas Sustentáveis de Produção como Promotoras de Conservação da Biodiversidade no Sertão Urucuiano”, contribuiu para a organização socioeconômica, apoio logístico, capacitações e até intercâmbios como forma de potencializar o extrativismo da COPABASE.
“Apostamos na capacitação para fortalecer a agricultura familiar e gerar renda para os pequenos agricultores e povos tradicionais. Entendemos que, através do incentivo ao agroextrativismo também contribuímos para a conservação do meio ambiente”, explica Aryanne Amaral, assistente de projetos da estratégia de implementação regional do CEPF Cerrado.
A produção de alimentos como açúcar mascavo, rapadura e farinha de mandioca valorizou o conhecimento tradicional das famílias, enquanto trouxe conhecimento técnico, agregando produtos diferenciados e de qualidade.
Segundo Dionete Barboza, a parceria com o CEPF e IEB foi um alicerce para os produtores, já que os permitiu desenvolver ações, trabalhar novas cadeias produtivas e realizar capacitações voltadas para gestão ambiental dentro das escolas.
“Todo o trabalho de orientação técnica que o CEPF nos auxiliou propiciou a sistematização das metodologias do nosso trabalho. A gente fazia muita coisa que não estava escrita; hoje, sintetizamos em oito cartilhas nas em áreas como gestão, agroecologia e mulheres”, completa Dionete.
Para mais informações sobre a Copabase, acesse o site da cooperativa.
O Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos é uma iniciativa conjunta da Agência Francesa de Desenvolvimento, da Conservação Internacional, União Europeia, da Gestão Ambiental Global, do Governo do Japão e do Banco Mundial. Uma meta fundamental é garantir que a sociedade civil esteja envolvida com a conservação da biodiversidade.